terça-feira, 7 de outubro de 2008

"O futuro está na superfície"

Entrevista com Jaime Lerner sobre o futuro (e/ou presente) do problema da mobilidade nas grandes cidades.

O urbanista e ex-governador do Paraná Jaime Lerner, 70 anos, quebra uma das certezas dos debates eleitorais: o futuro das grandes cidades brasileiras não está no metrô. Em vez de procurar respiros no subsolo, Lerner propõe a redescoberta da superfície, a integração dos sistemas de transporte.

"Planejar é uma trajetória", avisa aos apressados. Em entrevista a Terra Magazine, o administrador que transformou Curitiba em uma das referências do urbanismo contemporâneo avalia o presente e o futuro das cidades. Para Lerner, vencedor do prêmio das Nações Unidas para o meio ambiente, a mobilidade, a sustentabilidade e a coexistência são as idéias norteadoras do planejamento das metrópoles. Atualmente, ele é consultor da ONU para assuntos urbanos.

- Acredito que a gente consegue transportar em superfície um número de pessoas em tão grande quantidade, e em melhores condições, que um metrô. Só que a superfície precisa ser repensada. Temos que metronizar a superfície. São Paulo já errou três vezes e vai continuar a errar enquanto achar que a solução é só colocar a pista exclusiva - critica.

O ex-prefeito de Curitiba, que já presidiu a União Internacional de Arquitetos, analisa as alternativas para o Rio de Janeiro. Não assume um olhar fatalista sobre a criminalidade nas favelas, antes indica a capacidade de interagir do carioca - na praia, nas ruas, nos morros - como um dos elementos fundamentais para superar os conflitos provocados pelo tráfico de drogas.
- A droga complicou todas as cidades do mundo. Mas a cidade de melhor qualidade de vida é mais segura. A cidade que cuida melhor da mobilidade, da sustentabilidade, da coexistência, ela já é, em si, menos violenta. Agora, o problema da droga é um componente novo nessa história.
Lerner opina também sobre os choques das cidades modernas com o patrimônio histórico, a exemplo de Salvador e do Rio de Janeiro.

- Você não rasga o retrato de família, mesmo que você não goste do nariz de um tio. Porque esse retrato é você mesmo. A cidade é como um retrato de família.

Leia a entrevista:
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3237679-EI6578,00-Jaime+Lerner+O+futuro+esta+na+superficie.html

2 comentários:

Igulino disse...
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Unknown disse...

Interessante ver a opinião de uma pessoa que enxerga o problema da cidade como um sistema falho, um sistema que criou espaços que não funcionam na superfície. É louvável que ele indique a falta de qualidade dos espaços da superfície como determinante da qualidade de vida na cidade, se formos imaginar a cidade como um organismo(organismo sim, porque a cidade pode morrer se o seu funcionamento estiver defeituoso e a própria se altera devido às relaçõs dentra da própria e com outras cidades), com as suas ligações práticas defeituosas, temos que atacar esses espaços, melhorá-los no minimo funcionalmente e mão afundarmos mais problema. A verdade é que as reformas nas cidades nunca foram pensadas em todos os âmbitos, são colocadas muitas paixões e ideologias dentro de teorias de reformas e nunca uma realidade aplicada.
Quantas vezes vimos uma reforma que não consegue propor mais do que uma construção? um alargamento de rua, a demolição de um prédio, a inversão de uma rua? Espaços assim são pensado unicamente para solucionar um problema de fluxo e não por terem criado um novo espaço que exigirá interações com a sociedade em todos os níveis, desde o cidadão até as comunidades. A reforma no corredor leste oeste não conseguiu antever o que um cidadão gostaria, é tanto que os próprios usuários já fizeram um buraco na parada na frente do Boa Vista.
Imaginar uma reforma de uma cidade é complicado, principalmente se não se meche com a estrutura espacial da cidade, e não digo alterar as principais ruas de fluxo, essa não é a lógica da cidade, é meramente uma expressão da lógica. Quando brasília foi projetado para ter uma lógica de grandiosidade suas ruas precisavem ser grandes e eloquentes. E porque afundar os nossos transportes? porque são feioS? Duchamp já nos fez ultrapassar essa etapa da análise da arte...
Na minha opinião, as reformas das cidades só funcionam quando passam a acreditar em um novo espaço para a cidade. Uma nova lógica de rua. Quando o movimento moderno criou o método de projeto baseado na funcionalidade, não limitou a concepção artística, ele só buscou outro norte diferente da mímise praticada anteriormente. Assim, cada problema de cada local teria uma solução diferente (talvez repetisse alguns elementos, mas o espaço sempre seria diferente, que é o termo da arquitetura moderna), tendo sempre uma expressão diferente, e essa maneira de se expressar que não é limitado pela funcionalidade e sim pela criatividade. É pensar que ao projetar funcionalmente o arquiteto pode hierarquisar a função da maneira com que a criatividade dele achar adequada, sem perder a funcionalidade. Khan gosta de pensar na liberdade de programa, Niyemayer na liberdade de forma, Mies na forma afuncionale universal. São pensamentos distintos que podem ser trazidos para o campo da reforma urbana, porque são todos espaços criados para o homem.